Rosangela Demetrio


Desafiar a natureza pode custar caro

Transferir leito de rio não é exclusividade brasileira. Assim como no Brasil, na China, para a construção da Usina das Três Gargantas, foram necessários procedimentos dessa amplitude

Mas o quê falar dos chineses? A Usina das Três Gargantas foi uma obra revolucionária para aquele país. Além da geração de energia, tem também a função de facilitar o transporte fluvial, haja vista terem sido construídos dezenas de novos portos ao longo do rio. Construída no rio Yangtse, o maior da China, a usina teve suas obras iniciadas em 1993 e suas 26 turbinas devem gerar 18.200 megawatts, ultrapassando a capacidade de Itaipu, a maior usina hidrelétrica já construída. Com a conclusão do projeto prevista para este ano, a central vai proporcionar energia elétrica para sete províncias e municípios, aliviando o abastecimento na região.

Os últimos dez anos representaram para os chineses um período de crescimento sem precedentes. Foram feitas reformas estruturais, obras ligadas à telecomunicação, rede viária terrestre, abertura de portos, geração de energia, favorecendo a produção industrial e a logística de exportação. A demanda por esses serviços cresceu bastante. Citando o exemplo da indústria, a China tornou-se uma grande potência do mundo contemporâneo em setores como o de computadores, eletrodomésticos e aço. Na mineração, destaca-se como forte produtor de carvão, assegurando dois terços de suas necessidades energéticas. Entretanto, nem tudo são flores para a economia do país. Seus maiores problemas são a irregular distribuição de mão-de-obra, o aumento da dependência de recursos energéticos externos (principalmente o petróleo) e a instabilidade política.

A construção da Usina das Três Gargantas representou a mais notável transformação do planeta, colaborando em muito para posicionar a China como parte obrigatória no planejamento econômico da maioria dos países do globo.  No entanto, o progresso tem seu preço e a natureza parece que já iniciou sua cobrança. A obra submergiu uma área de aproximadamente 25 mil hectares, obrigando mais de um milhão de pessoas a transferirem-se para outras regiões, deixando para trás suas casas, lavouras, sítios arqueológicos, templos milenares e sua história. Atualmente, há um excesso de água na barragem.

No Brasil, a usina hidrelétrica de Belo Monte deverá ser a terceira maior do mundo, atrás de Itaipu e de Três Gargantas, mas tem causado muitas discussões. Organizações ambientalistas e lideranças indígenas da região rejeitam a obra, pois consideram-na impactante demais para o bioma da região. Os índios temem pela falta de peixes, sendo que alguns acreditam que o Rio Xingú pode secar em 20 anos. Que loucura! Será que vale a pena?

Artigo escrito por Rosângela Demetrio, publicado no Jornal Empresas & Negócios, em 28/julho/2010. Qualquer reprodução deverá citar fonte e autoria.